Manuel II de Portugal
A sua futura carreira naval foi inesperadamente interrompida em 1 de fevereiro de 1908, com o Regicídio de 1908. O infante havia regressado a Lisboa (depois de ter estado alguns dias em Vila Viçosa, com toda a família) para se preparar para os exames da escola naval, tendo ido esperar os pais e o irmão ao Terreiro do Paço. Minutos depois deu-se o atentado que vitimou o rei e o príncipe real, sendo Manuel atingido no braço.
O infante tornou-se assim Rei de Portugal. A sua primeira decisão consistiu em reunir o Conselho de Estado, a conselho do qual demitiu o primeiro-ministro João Franco, cuja política de força foi considerada responsável pela tragédia. Nomeou então um governo de aclamação partidária, presidido pelo Almirante Francisco Joaquim Ferreira do Amaral. Esta atitude acalmou momentaneamente os ânimos mas, em retrospectiva, acabou por enfraquecer a posição monárquica pois foi vista como fraqueza por parte dos republicanos.
Juramento de D. Manuel II
Foi solenemente aclamado "Rei" na Assembleia de Cortes em 6 de maio de 1908, perante os deputados da Nação, jurando cumprir a Carta Constitucional. Manuel manteve-se sempre fiel a este juramento mesmo quando, já no exílio, foi pressionado a apoiar outras formas de governo para uma possível restauração. O rei auferiu, no início, uma simpatia generalizada devido à sua tenra idade (18 anos) e à forma trágica e sangrenta como alcançou o trono. Foi então fortemente protegido pela sua mãe, Amélia, e procurou o apoio do experiente José Luciano de Castro.
Julgando que a intervenção directa na governação pelo seu pai havia sido a causa principal para o desfecho trágico do reinado deste, D. Manuel II absteve-se de intervir directamente nos assuntos do governo, seguindo a máxima de que o rei reina, mas não governa. No entanto, sobre um aspecto se debruçou directamente o rei, a Questão Social.
Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança
Manuel II (Lisboa, 15 de novembro de 1889 — Londres, 2 de julho de 1932),também chamado "o Patriota" ou "o Desaventurado", foi o último Rei de Portugal e dos Algarves de 1908 até à sua deposição em 1910 com a Implantação da República Portuguesa. Era o segundo filho do rei D. Carlos e sua esposa a princesa Amélia de Orleães, tendo ascendido ao trono após o assassinato de seu pai e irmão mais velho D. Luís Filipe, Príncipe Real.

Manuel fixou residência em Fulwell Park, Twickenham, nos arredores de Londres, local para onde seguiram os seus bens particulares, e onde já sua mãe havia nascido, também no exílio. Ali procurou recriar um ambiente português, à medida que fracassavam as tentativas de restauração monárquica (em 1911, 1912 e 1919). Manteve-se sempre activo na comunidade, frequentando a igreja católica de Saint James, e sendo o padrinho de baptismo de várias dezenas de crianças. A sua passagem no lugar ainda se vê hoje em topónimos como "Manuel Road", "Lisbon Avenue" e "Portugal Gardens".
Continuou a seguir de perto a política portuguesa, gozando de alguma influência junto de alguns círculos políticos, nomeadamente das organizações monárquicas. Preocupava-se de que a anarquia da Primeira República provocasse uma eventual intervenção espanhola e o seu perigo para a independência nacional.
Pelo menos um caso é conhecido em que a intervenção directa do rei teve efeito. Depois do afastamento de Gomes da Costa pelo general Fragoso Carmona, foi nomeado novo embaixador de Portugal em Londres, substituindo o anteriormente designado. Dada a aparente instabilidade e rápida sucessão de embaixadores designados o governo britânico recusou-se a reconhecer as credenciais do novo enviado. Ora acontece que na altura estava a ser negociada a liquidação da dívida de Portugal à Inglaterra, pelo que o assunto se revestia de grande importância. Nesta conjuntura, o ministro dos negócios estrangeiros da república pediu a Manuel que exercesse a sua influência para desbloquear a situação. O rei ficou encantado com esta oportunidade para ajudar o seu país e levou a cabo vários contactos (incluindo provavelmente o seu amigo, o rei Jorge V), o que teve de imediato os efeitos desejados.
Apesar de deposto e exilado, Manuel teve sempre um elevado grau de patriotismo, o que o levou, em 1915, a declarar no seu testamento a intenção de legar os seus bens pessoais ao Estado Português, para a fundação de um Museu, manifestando também a sua vontade de ser sepultado em Portugal
O rei D. Manuel II e sua esposa Augusta Vitória
Em 4 de setembro de 1913, D. Manuel II casou-se com Augusta Vitória, princesa de Hohenzollern-Sigmaringen (1890-1966), sua prima (por ser neta da Infanta Antónia de Bragança), e filha do príncipe Guilherme de Hohenzollern-Sigmaringen. Durante a missa na manhã do enlace, que teve lugar na capela do Castelo de Sigmaringen, Manuel assistiu de pé, ostentando a Ordem da Jarreteira e o Grande cordão da Banda das Três Ordens, sobre um caixote cheio de terra portuguesa.
A cerimónia foi presidida por José Sebastião de Almeida Neto, cardeal-patriarca de Lisboa, à altura exilado em Sevilha, e que já havia baptizado D. Manuel II, e assistiram: o herdeiro do trono britânico, Eduardo, príncipe de Gales, bem como representantes das casas reinantes ou reais da Espanha, Alemanha, Itália, França, Roménia e de vários principados e reinos alemães próximos. O casamento, uma união calma e serena, durou até à morte súbita do rei, mas não teve descendência, fonte de grande descontentamento para os monárquicos portugueses.
Sendo anglófilo e admirador do espírito britânico, Manuel defendeu a partir da entrada de Portugal na guerra, uma participação activa, instando os monárquicos a não lutarem contra a república e a porem de lado as tentativas restauracionistas enquanto durasse o conflito, e a unirem-se como portugueses na defesa da Pátria, chegando mesmo, no exílio, a ter solicitado a sua incorporação no exército republicano português.
Mas ao contrário do que esperava, a maioria dos monárquicos não corresponde às suas expectativas, pois eram germanófilos, que esperavam que a vitória do kaiser se saldasse pela restauração da monarquia. O rei por seu lado acreditava que só o apoio à Grã-Bretanha garantia a manutenção das colónias portuguesas, que se perderiam para a ambição alemã em caso de vitória destes, quer Portugal fosse uma república ou uma monarquia. Mas apenas aqueles mais próximos do rei se ofereceram para lutar, embora a República não tenha aceite os serviços de nenhum monárquico.
O próprio monarca se pôs à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Ficou de início um pouco desapontado quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha britânica, mas o esforço que desenvolveu ao longo da guerra, participando em conferências e recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, acabou por ser muito gratificante. As visitas à frente foram dificultadas pelo governo francês, mas a amizade com Jorge V era suficiente para desbloquear esses entraves.
O seu esforço nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a António Ferro, lamentou-se, "A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres´."[7]
Ao rei se deveu a criação do departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por sua insistência continuou a funcionar até 1925, assistindo aos mutilados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos ingleses para Manuel e para com Portugal foi o facto de Jorge V tê-lo convidado a ocupar um lugar a seu lado na tribuna de honra do desfile da vitória, em 1919.
D. Manuel II e D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança mantiveram alguns encontros em Fulwell Park, Londres
Embora nenhum dos alegados pactos entre os dois ramos da Dinastia de Bragança tenha levado, como se viu, a um acordo definitivo para além de qualquer dúvida, é de notar que, ao longo de todo o exílio, D. Manuel II nunca se procurou entender quer com o ramo brasileiro da Casa de Orleães-Bragança, quer com a linhagem do Duque de Loulé no que toca à sua própria sucessão. Apesar de todas as dificuldades criadas quer pelas diferentes inclinações políticas e pela mudança de lealdade dos integralistas, o rei nunca duvidou onde estava a legitimidade, em seu filho D. Luís Filipe.
Tendo isto em conta, além do próprio peso do movimento integralista, aquando do falecimento súbito do rei, o movimento Causa Monárquica declarou-se, embora sem legitimidade para tal, como Cortes Gerais da Nação e aclamou o pretendente Duarte Nuno de Bragança como alegado "rei de Portugal". Para este pretendente, primo já muito afastado de D. Manuel II e neto do ex-infante D. Miguel, terá sido passada a chefia da casa real portuguesa, ao abrigo das pretensões definidas pelos miguelistas.
Por seu lado, a alegada meia-irmã do último monarca, D. Maria Pia de Saxe-Coburgo Gotha e Bragança, sempre contestou as pretensões dos descendentes do ramo Miguelista e, alegando a existência de laços familiares directos com o rei D. Manuel II com ela na qualidade de sua meia-irmã e filha de uma relação adúltera entre o rei D. Carlos e Maria Amélia Laredó e Murça, reivindicou-se como sendo a legítima sucessora na chefia da Casa Real Portuguesa e a herdeira dos bens da Família Real. Da relação de ambos, apenas se conhece o facto de terem mantido alguns encontros em Fulwell Park, Londres. O rei D. Manuel II parecia apreciar a personalidade forte e algo resoluta de D. Maria Pia de Bragança, de modo que o monarca dizia, com humor, que só ela tinha "o lado Saxe-Coburgo" da família.
Após a morte de D. Manuel II, o governo de Salazar instituiu a Fundação D. Manuel II com os bens pessoais do monarca e a Fundação da Casa de Bragança com os bens das extintas Casa de Bragança e Casa de Bragança-Saxe-Coburgo-Gota.
Faleceu inesperadamente na sua residência, em 2 de julho de 1932, sufocado por um edema da glote. O governo português, chefiado por António de Oliveira Salazar, autorizou a sua sepultura em Lisboa, organizando o funeral com honras de Estado. Os seus restos mortais chegaram a Portugal, em 2 de agosto, sendo sepultados no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.